INOVA BERRINI

Estórias do Brooklin: um córrego chamado Águas Espraiadas

Conheça a Galera do Bronk’s, uma turma que cresceu no Brooklin nos idos dos anos 60, 70 e 80 e, com as aventuras da infância ou bailinhos de garagem, fizeram a estória do nosso bairro!

Por: Ivo Pontes

O Águas Espraiadas em alguns trechos fazia jus aos seu nome e se espraiava mesmo durante os temporais de verão, levando embora muitas vezes aquelas pinguelas toscas que os moradores faziam para cortar caminho.

Ali na André Ampére havia uma entre as pontes de concreto da Arizona e da Flórida, mas vira e mexe ela desaparecia feito uma jangada, carregada pelos temporais fortes de fim de tarde. Certa vez construíram uma mais reforçada, mas mesmo assim a enxurrada levou as tábuas da parte de cima, ficando apenas os troncos paralelos, porém, desnivelados, um bem mais alto que o outro. Acabaram deixando assim mesmo, atravessando o pessoal dali em diante pelo mais baixo, servindo o mais alto como corrimão.

Então, certa vez ocorreu um incidente ali, que se não tivesse sido trágico, teria sido cômico. Havia um padeiro que fazia suas entregas de lambreta e vivia nas imediacões, mas sempre atravessando o rio pelas pontes de concreto. Um dia, com muita pressa, resolveu atravessá-lo temerariamente pelo tronco da pinguela sem desmontar e como obteve sucesso, passou a fazer aquilo frequentemente sob o olhar atônito das pessoas e da molecada, que o aplaudia pela audácia e ele ficava todo orgulhoso.

As chuvas de verão caíam sempre à tardinha, eram fortes, rápidas e enchiam o córrego até a boca, muitas vezes extravasando-o, porém naquele fatídico dia choveu à hora do almoço, encheu o rio sem vazar e saindo em seguida o sol, nós, a molecada, aproveitamos para jogar taco num campinho de grama perto do rio como sempre fazíamos. Então justamente nesse fatídico dia vimos o padeiro chegar com a lambreta chapinhando nas poças d’água com sua habitual capa de chuva marrom, sempre com pressa, e percebemos que ele iria fazer aquela besteira de atravessar em velocidade novamente.

O tronco na parte de cima era aplainado, mas tinha uma plataforma de uns quinze ou vinte centímetros só e estava molhado devido a chuva. Na distância em que seu Cabral estava, não percebia que o rio estava cheio até a boca e então enquanto segurava sua boina cinza com a outra mão, acelerou, se curvou e mandou bala. Nós ainda chegamos a gritar para avisá-lo que o rio estava cheio, mas apressado, não nos ouviu.

Então, lá no meio do percurso ele derrapou,se desquilibrou e caiu com tudo no meio da correnteza avermelhada cheia de galhos e detritos. Ainda ouvimos quando ele gritou ” aí Jesus”, mas não havia mais o que se fazer. Por sorte a lambreta tinha uma caixa de madeira pintada de verde na parte de trás e isso a fez flutuar, servindo-lhe também como bóia. Os pães flutuavam atrás da lambreta seguidos por sua boina e todos começaram a ser arrastados em direção às pontes da Flórida.

Felizmente havia uma construção nas proximidades (onde depois foi instalada a bicicletaria do Zé Maria) e com madeiras e pontaletes os moradores seguraram a lambreta na ponte de concreto, enquanto seu Cabral, cheio de detritos na cabeça, fora retirado também com auxílio de várias pessoas. Quando a água baixou mal se reconhecia a lambreta com tanta lama e coisas grudadas nela, mas ele a recuperou depois e voltou a trabalhar normalmente.

Não sabíamos o nome dele. Alguém entre a molecada começou a chamá-lo de seu Cabral e ficou, mas apenas entre nós ali. Fomos recompensados depois com aqueles deliciosos pães doces depois, como agradecimento pela ajuda. Ele que na verdade já havia feito aquela mesma temerária travessia antes com tanto sucesso, naquele dia não esperava que o rio estivesse cheio e se assustou, além do fato do tronco estar escorregadio pela chuva. Encerrou então dessa forma sua carreira de malabarista e jamais voltou a fazer aquilo novamente, voltando a atravessar com segurança pelas pontes de concreto.

A vida também é assim: a gente acaba aprendendo com os tombos, problemas e besteiras que faz durante sua travessia…rs.

O que diz a galera do Bronk’s:


Galera do Bronk’s é um grupo privado no Facebook, da Tita Marinho e administrado por Binho Pontes.

** Ivo Pontes tem esta e muitas outras estórias do bairro para contar.
Se você gostou, deixe seu comentário abaixo.

Contato: ivopontes52@hotmail.com


Veja também:

4 comments

  1. Edval de Andrade disse:

    Sou morador antigo do bairro, muito bacana saber desta histórias interessantes.

    Obrigado 

    1. Eddy disse:

      Obrigado por nos acompanhar Edval. Adoramos publicar as estórias de moradores antigos do Brooklin. Caso tenha fotos desta época, por favor nos avise! Abraços.

    2. Louise Helene Villin de Csnpis disse:

      Mas q delicias de estórias do Brooklin !!! Adorei o texto !!!

  2. Jorge Rodrigues da Silva disse:

    Gostaria de manter contato com vocês. Como faço?

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